O que resta da montanha
por Mateus Fagundes
Nos versos, o poeta itabirano Carlos Drummond de Andrade revela o desencanto com relação ao destino de sua serra. Ele se refere ao Pico do Cauê, um dos principais personagens da história da mineração do ferro em Minas. Se no século 18 o local era referência para os bandeirantes, hoje é sinônimo do destino que as montanhas de Minas parecem fadadas a cumprir.
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Aos pés do Pico foi construída a vila que deu origem à cidade de Itabira, a 111 km de Belo Horizonte. No início do século 20, descobriu-se que o local guardava um tesouro: uma das maiores jazidas de minério de ferro do mundo. Em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce entra em atividade e a exploração atinge escala industrial. Em 1973, a Mina de Cauê se tornou a maior frente de extração do mundo ocidental.
Hoje, a Mina de Cauê já dá sinais de esgotamento do minério de ferro. E o pouco que resta dela pode estar ameaçado. Para manter a extração nos níveis atuais, cerca de 40 milhões de toneladas ao ano, a Vale prepara um novo projeto para aproveitar o minério de baixo teor de ferro.
O Pico se tornou apenas uma lembrança nas fotografias, na parede. A socióloga e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Giulle Vieira da Mata, lembra uma frase muitas vezes repetida em Minas Gerais. “O Pico do Cauê, hoje, é o buraco do Cauê.” E completa citando Luiz Fernando Veríssimo: “A culpa é do nosso tamanho”, que “em um país tão grande como o nosso, aquele buraco não significa nada.” Com o avanço do novo projeto da Vale, o “Buraco do Cauê” deve ficar ainda maior.
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