Uma cidade feita de aço

February 2nd, 2013Trilha do minérioNenhum comentário »
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(FOTO: Simião Castro)

por Mateus Fagundes e Simião Castro
Para quem vem de Mariana, chegar a Ipatinga poderia significar o contato com uma outra realidade. O traçado planejado do centro, as ruas largas e as pessoas apressadas provocam a impressão de uma metrópole.

No entanto, são as palavras do jornalista e documentarista Sávio Tarso que evidenciam a semelhança entre as duas cidades. “O minério aqui só passa. A gente vê o aço.” Se Mariana depende do minério de ferro para se desenvolver, Ipatinga – polo econômico do Vale do Aço – é o retrato de uma cidade que se construiu ao redor de uma fábrica, ao redor do aço.

Impulsionada pela Usiminas, a indústria é o setor mais relevante para a economia da cidade. Quase a metade do Produto Interno Bruto do município veio dessa atividade em 2010. Confira os detalhes no gráfico:

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Visão parcial do “Novo Centro”, com as chaminés da Usiminas ao fundo. (FOTO: Simião Castro)

Relação com a cidade
A usina – tratamento dos moradores da cidade à Usiminas – faz parte da identidade do município. “Aqui tudo é ‘Usi’”, comenta Sávio Tarso. Os clubes recreativos, o aeroporto e os nomes dos estabelecimentos, todos aludem à usina. “Considero Ipatinga muito desenvolvida, do comercio a parte cultural, apesar de fazer parte do interior. E isso se deve quase exclusivamente a Usiminas. Ipatinga de fato se desenvolveu pela Usiminas e cresceu em torno dela.”, afirma a estudante de Publicidade e Propaganda, Thays Soares Oliveira.

Muitos dados traçam um panorama animador sobre a cidade. Dos quase 240 mil habitantes, 99.140 estão empregados no município, sendo que só a Usiminas dispõe de mais de oito mil postos de serviço. Isso corresponde a quase 10% de toda a população empregada. Estima-se que 25% do total industrial do PIB seja produzido pela empresa. A economia da cidade está cada vez menos dependente da empresa.

Diferenças
Todos esses índices mostram uma situação animadora na cidade. “A cidade é toda planejada, é muito homogeineizada.”, afirma Sávio Tarso. Isso, porém, não isenta a cidade de sofrer com a desigualdade social. Nem tudo são flores na “cidade jardim”.

Se por um lado o PIB per capta do município é de R$ 30.904,60, a renda média dos trabalhadores é de R$ 1.553,46. Sessenta e cinco por cento dos empregados na cidade recebem até dois salários mínimos, segundo dados do Censo de 2010. Mais de doze mil habitantes da cidade moram em favelas, em áreas de risco. “Se você for em uma favela de Ipatinga – Morro do Escorpião, Morro São Francisco – e em seguida for até o bairro Castelo a desigualdade será gritante.” destaca Thays.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulga a cada dez anos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No último levantamento, de 2003, Ipatinga ocupa a posição 452 no ranking das cidades, com pontuação 0,806 – o índice vai de 0 a 1. Porém, o historiador e professor do Unileste Lúcio Mendes Braga não se entusiasma com o dado. “Eu acredito que a exclusão social está crescendo muito e se esse Índice de Desenvolvimento Humano ainda é muito elevado, ele tende a cair, porque a cidade está crescendo muito, acompanhada de problemas sociais.”, alerta.

Violência
Ipatinga registrou, conforme dados da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, 753 ocorrências de crimes violentos e 47 homicídios em 2012. Em comparação com anos anteriores, a cidade está ficando mais violenta.

“Me sinto parcialmente segura em Ipatinga. Já me senti mais”, ressalta a coordenadora de ensino Flávia Camargo Neuberger. Segundo ela, as políticas públicas na cidade não têm sido tratadas com o rigor que merecem. “Os governantes não deram a atenção necessária à segurança nem à limpeza da cidade […] Vimos a criminalidade aumentar consideravelmente e o sentimento de segurança já não é mais o mesmo”, reivindica. Procurada por e-mail e telefone, a assessoria de imprensa do 14º Batalhão de Polícia Militar – responsável pela região – não respondeu aos questionamentos.

 

Assista aqui a entrevista com Lúcio Mendes Braga.

 

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