Lágrimas e Cachoeiras

October 24th, 2011Entre AspasNenhum comentário »


por Simião Castro
“Eu aumento o volume da música. Coloco meus discos para tocar. Fecho o mundo lá fora…” É assim que ela começa. Já gritando nos seus ouvidos. Uma espécie estranha de ruído. Parece como uma colméia de abelhas, coisa incômodo no geral, mas não é! É uma mistura de sonoridades. E é agradável.

Ela começa com aqueles versos ali de cima. Fecha o mundo lá fora e lhe transporta para outro. O coração bate no ritmo da música rebelde, que salta dos fones para seus ouvidos e foge por entre seus dedos. Ela é Every teardrop is a waterfall. Uma das faixas do novo álbum da – mega-ultra-master-plus – banda Coldplay.

Mylo Xyloto, como é chamado, saiu hoje após 3 anos do lançamento do último disco de inéditas do grupo inglês, Viva La vida Or Death And All His Friends, sucesso absoluto, aliás. As músicas do novo álbum já vinham sendo tocadas em shows e festivais dos quais Chris Martin (vocal), Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria) participaram, como no Rock in Rio, onde 7 delas estavam no setlist.

Composto por 14 faixas, incluindo as 3 instrumentais, Mylo Xyloto foi feito para ser ouvido por completo. “Uma história que é vagamente um romance num ambiente opressivo”, define Martin em entrevista à revista Billboard Brasil de setembro. E acrescenta que a história de amor tem final feliz – dependendo da sequência das músicas.

Juntas, elas formam um produto refinado e complexo, gostoso de ouvir. “Houve um período em que tudo funcionava: nós dividimos um monte de ideias, as reunimos, as separamos e as juntamos de novo. Sempre gostamos do começo… O som intimista. E depois nos perguntamos para onde poderíamos ir…” explicou Buckland na mesma entrevista.

Isso tudo é fruto de um trabalho intenso e exaustivo. Buckland conta ainda que o processo de produção é parecido com um brainstorm: lançam o maior número possível de idéias até finalmente se satisfazerem com algumas poucas, descartando as outras. “Você continua tentando coisas novas até conseguir aquela que dura. Eu me preocupo com as músicas que serão cortadas. É um processo brutal de composição: escrevemos 70 para chegar a dez. Somos mais detalhistas com isso do que jamais fomos antes, mais brutais com as idéias uns dos outros.”

Mas se você não quer ouvir o disco todo, ou aceita uma sugestão de por onde começar, indico duas: O primeiro single, Paradise e minha preferida: Every teardrop is a waterfall, que nomeou o EP lançado pelo Coldplay em Junho. Por quê?

Porque Every teardrop mexe com a gente. Não dá para escutar e ficar impassível ao efeito que ela causa. É uma inquietação, como se o corpo todo

formigasse. Ela preenche a gente: “Catedrais em meu coração”, é o que ela diz, afirmando que podemos ser enormes o suficiente para suportá-la. Cabem, sim, catedrais no seu coração.

“Cada sirene é uma sinfonia. Toda lágrima é uma cachoeira.” E é mesmo. Não há meios termos em Every teardrop. É oito ou oitenta, quente ou frio. E não cabe bom ou mal humor: ela é otimista, e ai de quem disser o contrário. “Então você pode me ferir. Me ferir gravemente. Mas eu ainda levantarei a bandeira.”

E que bandeira é essa? Qualquer bandeira. A SUA bandeira! A bandeira do combate à violência, ao abuso infantil, à corrupção, ao preconceito ou, simplesmente, a bandeira daquele que a tudo resiste e do qual tantos têm duvidado: o amor.

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