Das minas de ouro às minas de ferro

por Mateus Fagundes
Uma lenda indígena que fala sobre a existência de um lugar cheio de ouro povoou o imaginário dos colonizadores ibéricos a partir do século XVI. Concluíram eles que aquela nova porção de terra, chamada América, possuía o metal em abundância. Os espanhóis tiveram mais sorte que seus vizinhos portugueses. Já nos fins dos 1500 enviavam grandes remessas de ouro para a Europa. O eldorado português viria somente dois séculos depois. Foi a descoberta de ouro nas margens do Ribeirão do Carmo, em 16 de julho de 1696, que despertou em Portugal a cobiça que apenas o minério é capaz de conceber.
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Nas proximidades daquele Ribeirão instalou-se a primeira Vila, em 08 de abril de 1711. Ali também nasceu a primeira cidade, primeira capital da província das Minas Gerais. Foi sede do primeiro bispado e guarda no traçado original de uma de suas principais praças um esboço de planejamento urbano. Mariana, nome dado em homenagem a Maria Ana de Áustria, Rainha Consorte de Portugal, guarda três séculos de história em suas ruas, praças e igrejas. É a cidade símbolo de uma sociedade mineradora – mineradora por natureza.
Glória e decadência
Segundo Ruzimar Batista Tavares, em sua dissertação de mestrado “Atividades extrativas minerais e seus corolários na Bacia do Alto Ribeirão do Carmo: da descoberta do ouro aos dias atuais”, a mineração em Minas Gerais atingiu seu auge entre as décadas de 1730 e 1770. Mesmo após a transferência da capital para Vila Rica (atual Ouro Preto), em 1720, a Vila do Carmo se manteve como um dos principais polos da província. A atividade aurífera, no entanto, entrou em declínio no final do século XVIII.

Ruzimar Batista revela ainda que, em 1819, o Barão de Eschwege inicia a exploração de minas de ouro no distrito de Passagem de Mariana. A formação da Cia. Minas de Passagem, em meados do século XIX, cujos donos eram ingleses, iniciou nova fase de exploração mineral no município.

Minas – agora de ferro
Novamente, a região entrou em declínio no final do século XIX, permanecendo estagnada até a década de 1960. Não mais o ouro era o responsável pelo crescimento da população e da economia. A partir de então, outro metal que desperta a cobiça. Os olhos brilhavam pelo minério de ferro.
Paulo Souza Júnior, no artigo “Visões da cidade: memória, poder e preservação em Mariana – MG”, conta que em 1965 foi criada a S.A. Mineração Trindade (Samitri), que passou a explorar na região. Em 1977 foi a vez da Samarco Mineração S.A. dar início aos seus trabalhos. Em 1979, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) começa a construir sua base no município. As instalações da mineradora começaram a funcionar em 1984.
A chegada das mineradoras fez a população aumentar significativamente no município. Em 1960 eram 6.837 habitantes na sede. Já em 2010, o número saltou para 47.642, segundo dados do Censo. O crescimento populacional do município foi de 596%. Para efeito de comparação, no Brasil a população cresceu cerca de 170% no mesmo período.
Como se deu esse crescimento e o que ele acarreta? Você vê aqui na Dois Pontos.
Galeria
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Visões da cidade: memória, poder e preservação em Mariana – MG. Artigo de Paulo Graciano Souza Junior.
Páginas na internet
Lenda do El Dorado
História de Mariana
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